Sentada sob a luz amarela da
luminária fico imaginando o que restou de mim depois de todo esse tempo.
Palavras não ditas e desejos submersos em um inconsciente completamente
distorcido. Restou a paisagem do vazio. Algo que poderia ter sido e nunca foi.
Amores discretos e humores perversos.
Em uma primavera gelada e
chuvosa fico a espreita esperando o que não chega e uma angústia que corrompe o
resto da alma que não perdi. Ouço um desafio emblemático de cobranças severas
sobre um destino incerto e o medo dilacera o resto da minha úlcera. Vejo sonhos
renascendo ao meio da morte de tantos. Zumbi.
Ao longo de todos os anos me
senti distante de tudo – de mim mesma. Assisti apaticamente a vida passar sobre
um risco de nuvem azul e aprendi que o medo é o que me move. Areia movediça.
Disciplina tem sido o que uma rotina é feita. Penso, aqui, na luz amarela, em
tudo que poderia ter sido e feito. Sinto-me estática, andando em círculos para
voltar ao mesmo lugar, apenas com medos diferentes e angústias aumentadas. O
desejo da fuga retornando ao lar do medo.
Areia movediça de sabores
perversos. Salvemos a alma que vos escreve para que não tenha mais direito ao
pecado que é a morte. O desamor. O desafeto. A loucura permanente da mente
inquieta. O outro através de mim.