quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tecnologia User Friendly?

Umas das coisas que mais me chama atenção nos avanços da tecnologia eletrônica nos últimos anos é o impacto que ela gera em diferentes pessoas, culturas e gerações. 

Você pode me dizer: Ah... mas a minha vó é moderna e não sai do facebook. Eu diria: que legal (se o uso for saudável) ou, que triste (se ela não larga o tal do facebook e fica postando coisa que não deve, além de mandar convites diários pra aqueles joguinhos que todos nós amamos).

Em 2010 eu ganhei um iphone da minha mãe. Sim, eu gosto de iphone. Talvez, segundo o (post do Ney), eu seria classificado como um fiel não praticante da apple, porque apesar de gostar do meu iphone, sei que tem coisa melhor (de plástico) por aí. Enfim, lá em 2010 eu ganhei o meu iphone e todo feliz fui mostrar essa proeza da tecnologia pro meu Opa (avô pros alemão), que na época já tinha passado dos 80 anos. O Seu Norberto era um cara muito inteligente, mas não conseguiu entender a tal tecnologia touchscreen. Depois da minha apresentação ao estilo do Steve Jobs, meu Opa disparou: “que coisa… mas como pode funcionar se só tem um botôm?”…

Se o meu avô teve dificuldades pra entender o funcionamento de um smartphone, os filhos dos meus amigos que têm entre 1 e 2 anos já sabem desbloquear, abrir e fechar aplicativos e até tirar selfies. Não é raro ouvirmos o comentário de que essas crianças de hoje parecem já nascer sabendo essas coisas. Será? Será que elas não apenas imitam os seus pais que não conseguem mais viver sem os seus respectivos gadgets? Ou seriam os tables a versão mais moderna que existe para as antigas chupetas, afinal é só ligar a galinha pintadinha e o choro pára?

Aqui na África a coisa ainda é um pouco diferente. Apesar de a maior parte da população viver com menos de 1USD por dia, a disponibilidade de eletrônicos por aqui é impressionante, afinal de contas a África é um mercado consumidor gigante e muito promissor. Contudo, percebo que a cultura africana valoriza mais horas de bate papo ao vivo do que pra horas no facebook. O mesmo se aplica para as crianças que fazem das ruas da vizinhança os seus playgrounds. Elas não só brincam fora de casa, como desenvolvem seus próprios brinquedos. De alguma forma, me lembram das aventuras da minha própria infância no Brasil.

A moda agora é Pebolim feito de caixa de papelão, com “jogadores” feitos de pedaços de chinelos velhos. Além de ser um brinquedo realmente legal de brincar, o fato de fazer o próprio brinquedo é uma brincadeira por si só!



Não me entendam mal, não estou afirmando que a vida das crianças aqui na África é melhor porque elas estão, de certa forma, protegidas dos males da tecnologia moderna. Como falei antes, gosto muito do meu smartphone e segundo a minha esposa, sou até meio viciado em tecnologia. O meu ponto é que uma criança que sabe tudo sobre jogos eletrônicos e afins, mas que não sabe subir numa árvore ou brincar de chuta-lata, pode estar perdendo um divertimento que ela nem sabe que existe, sem falar no exercício físico. Criança é criança em qualquer lugar do mundo. As daqui são um pouco diferentes porque vêm de uma cultura que valoriza mais os relacionamentos (de brincar junto) do que o próprio brinquedo…. 


Meus vizinhos diriam: "Esse tal de ipad deve realmente ser algo mágico, porque os Wazungu (brancos) ficam hipnotizados por horas olhando pra aquela telinha enquanto tantas outras coisas e relacionamentos acontecem aqui no mundo real."

Sabemos como usar nossos eletrônicos, mas parecemos não saber quanto ou quando. Talvez essa idéia de "user friendly" não seja assim tão friendly quanto pensávamos ser.

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