A lua é nova. O cigarro queima entre os dedos e penso que o
silêncio poderia acalmar a alma inquieta. Não. A inquietude faz parte. O
diagnóstico veio em 10 minutos. O sofrimento veio em anos. A cobrança sempre
ocorreu e eu nunca tive férias. Cada cigarro que eu acendia, o veneno do
remorso me eviscerava. Tomei remédios. “Vai acalmar a alma”. Tomei. Um de
manhã. Um de noite. Os anos passaram. As memórias, não. Essas eu sei, hoje, que
são para sempre. Que não há pílula que apague ou conversa que resolva. E os anos
vieram. As velhas e novas inquietudes (re)surgiram.
Caminhei a noite inteira tentando encontrar o meu próprio
silêncio na noite escura. E chovia. Pingava leve e continuamente no meu ombro.
Sentia escorrer cada gota pela minha testa, pelo canto do meu olho e meu cabelo
pingava. Lágrimas. Chuva. Caminhei sentindo a água lavar o silêncio – aquele
que nunca encontrei desde o dia que você decidiu encontrar o seu – para sempre.
A coragem dos fracos. A coragem dos inocentes. A coragem que nunca tive. E admiro a persistência. A desistência. A
loucura. Loucura? Loucura é viver sem respirar. Viver esperando. Viver
desejando. O desejo dos intocáveis. Viver com medo. Chamaram você de louco.
Chamaram você de perdido. Chamaram você de tantas palavras que deixei de
escutar.
Os lábios mexiam e o silêncio nunca veio. Você foi. Eu fiquei
vagando. Querendo o seu silêncio. Invejando o seu silêncio. E te chamaram de
tantos nomes. Acusaram de tantas falhas. Acusaram sem espelhos. E caminhei a
noite inteira atrás de uma resposta – não para você, mas para mim. Você foi. Eu
fiquei. Querendo. Desejando. Ansiando. Esperando. A vida nunca foi a mesma. A
sua. A minha. A nossa. Vaguei por ruas desconhecidas. Sentei em bares
estranhos. Conversei com pessoas. Conversei. Chorei. Chorei em ombros que não
lembro. Chorei por você. Por mim. Por nós. Pela vida. Pela morte. Pelo desejo
dos fracos. Pela coragem dos fracos. Ainda choro.
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