quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Coragem


A lua é nova. O cigarro queima entre os dedos e penso que o silêncio poderia acalmar a alma inquieta. Não. A inquietude faz parte. O diagnóstico veio em 10 minutos. O sofrimento veio em anos. A cobrança sempre ocorreu e eu nunca tive férias. Cada cigarro que eu acendia, o veneno do remorso me eviscerava. Tomei remédios. “Vai acalmar a alma”. Tomei. Um de manhã. Um de noite. Os anos passaram. As memórias, não. Essas eu sei, hoje, que são para sempre. Que não há pílula que apague ou conversa que resolva. E os anos vieram. As velhas e novas inquietudes (re)surgiram.

Caminhei a noite inteira tentando encontrar o meu próprio silêncio na noite escura. E chovia. Pingava leve e continuamente no meu ombro. Sentia escorrer cada gota pela minha testa, pelo canto do meu olho e meu cabelo pingava. Lágrimas. Chuva. Caminhei sentindo a água lavar o silêncio – aquele que nunca encontrei desde o dia que você decidiu encontrar o seu – para sempre. A coragem dos fracos. A coragem dos inocentes. A coragem que nunca tive.  E admiro a persistência. A desistência. A loucura. Loucura? Loucura é viver sem respirar. Viver esperando. Viver desejando. O desejo dos intocáveis. Viver com medo. Chamaram você de louco. Chamaram você de perdido. Chamaram você de tantas palavras que deixei de escutar.

Os lábios mexiam e o silêncio nunca veio. Você foi. Eu fiquei vagando. Querendo o seu silêncio. Invejando o seu silêncio. E te chamaram de tantos nomes. Acusaram de tantas falhas. Acusaram sem espelhos. E caminhei a noite inteira atrás de uma resposta – não para você, mas para mim. Você foi. Eu fiquei. Querendo. Desejando. Ansiando. Esperando. A vida nunca foi a mesma. A sua. A minha. A nossa. Vaguei por ruas desconhecidas. Sentei em bares estranhos. Conversei com pessoas. Conversei. Chorei. Chorei em ombros que não lembro. Chorei por você. Por mim. Por nós. Pela vida. Pela morte. Pelo desejo dos fracos. Pela coragem dos fracos. Ainda choro.

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