quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Devaneios sobre o autoconhecimento – O Espelho e o Retrato

O que pinta o retrato é o que de mim reflete no outro.
Há muito quis ser o que de mim eu pintava. Inútil! Pois a mim eu mal conhecia.
Vi reflexos meus sendo mal interpretados e já não me interessou mais posar para poder a mim retratarem.
Brinquei de ser várias cores e formas. Percebi que podia mudar a tonalidade, mas algo na cor sempre ficava apesar da mudança que resultava da mistura com outras cores a quem me apresentavam.
Podia ser eu um retrato do que já haviam me pintado, se a mudança é constante e no espelho do tempo ela reflete?
Eu brinquei de enfeitar o meu reflexo no espelho para ver se a pintura sairia mais bonita.
Guardei todos os retratos e escolhi para quem mostrar.
Os retratos confundiam-se com os espelhos e eu já não enxergava mais a tênue diferença entre os dois. Porque eu poderia ser o que o outro pintava. Porque eu via no espelho o reflexo do outro em mim.
Incorporei alguns retratos com medo do meu espelho aparentemente frágil e desinteressante. Quis ser retrato e apaguei meus reflexos buscando aceitação.
Poderia ser exposição, mas sabia que reflexos eram quase sempre os mesmos, apenas mudados pelas marcas do tempo, aperfeiçoamento, aprendizado e compaixão.
Compaixão por mim e meus reflexos. Tão tímidos no inicio e tão revigorantes quando compreendidos.
Minhas dúvidas zombavam de mim; 
Flexibilidade é ser pintura?
Autenticidade é ser espelho?
Tenho para mim que meus reflexos, assim puramente reflexos sem nenhum jogo de luz, são mais reluzentes que as pinceladas de cores fortes que pintam de diversas formas meu ser.
Mas a pior e eterna busca de todas as esperas me faz angustia e eu me pergunto;
Seria a perfeição a fusão dos dois?
Mas se assim for eu então me perderia de novo,sem encontrar qual seria a verdadeira cor e forma.
Mas há uma cor e forma verdadeiros?
Aprendi que só posso brincar de retratos quando realmente re/conhecer meus reflexos no espelho.

Cristiane Teixeira

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