quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Madrugada de Esmeraldas




Madrugada. O sono escapou, como fugitivo preso inocentemente, e agora tenta provar que tudo foi um engano. Vago por essas linhas a procura de algo. E, ao surfar pela web, me encontro com “Esmeraldas”, novo álbum da Tiê.

O terceiro trabalho vem repleto de encantos. A faixa com a participação de David Byrne, “All Around You”, é uma delícia pop com pitadas tropicalistas. Isso não poderia faltar, afinal, o ex-Talking Heads é amante incondicional de Caetano, Gil e Tom Zé.

“Par de Ases” é outra que se sobressai, sobretudo pelo arranjo repleto de camadas de teclados. A sonoridade é culpa do produtor, Adriano Cintra, que além de culpado pelo sucesso do CSS, lançou neste ano a incrível “Animal”. O cara, aliás, está cada vez mais requisitado no circuito moderninho paulistano. Thiago Pethit, por exemplo, deve um boquete a ele, tamanha beleza que o cara imprimiu em “Rock`n Roll Sugar Darling”.
Mas, voltando à Tiê. Passeando por essa noite sem sono, é de felicidade que meus tímpanos se abrem na canção “Máquina de Lavar”. Cordas, guitarra esperta e melodia nos remetem a uma jovem guarda-vanguarda que teria sido perfeita na voz de Wanderléa. E, a seguinte, “Urso”, com a sua batida mezzo-dançante e vocalizes, é perfeita para ficar movimenta os dedos do pé. Sobre o que ela trata? Sei lá.


Apesar da dispersão que a letra da canção citada proporciona, essa colocação não se aplica ao restante do trabalho. Com 12 músicas compostas em parceria com uma galera do bem, como André Whoong, cada texto reverbera um lado confessional que soaria demasiadamente brega se não estivéssemos falando da Tiê. A sua característica de proporcionar poesia simples e deixar tudo mais fácil e lindo, é fator positivo em toda sua carreira. Sua capacidade de traduzir isso em música continua sendo seu principal louvor. E, se o meu sono não chegou, após a primeira audição de “Esmeraldas”, pelo jeito dormirei somente amanhã e irei trabalhar com olheiras orgulhosas, pois vale a pena por no repeat e ganhar a madrugada ao som da ex-modelo da Ford. 

domingo, 23 de novembro de 2014

Não gosto de sexta-feira

Acho que eu não gosto de sexta-feira. Todo mundo comemora este dia, dizendo que finalmente chegou o descanso, tempo de fazer coisa que se gosta. Mas sexta-feira é um dia que estou cansada, um dia que tudo está cheio e que as pessoas ficam incomodadas de falar de trabalho.

Sim, eu sei. O normal é segunda.

E eu gosto de falar de trabalho, porque eu tento fazer coisas divertidas. Coisas que tenham importância para o que eu acredito. Neste momento estou me preparando para ficar 6 semanas no Peru trabalhando voluntariamente em um programa de empreendedorismo social para jovens. E também desejo do fundo da minha motivação (coração) produzir um documentário social com um filme de 15 minutos e uma série de 42 episódios para web. Quero que as pessoas sintam a vibração de escolher seu trabalho. Ao mesmo tempo que descubram que isto não significa sempre estar em mar de rosas. Existe angústia, dúvida, dificuldade, tarefas chatas, mas existe um porquê que ajuda a passar por tudo isso.


Acontece que sempre esqueço de postar aqui na sexta e corro atrás do prejuízo fazendo meu texto sábado ou domingo. Final de semana me parece este tempo mais vazio que uso para tentar arrumar o que ficou pendente nos cinco dias anteriores. Final de semana é dia de arrumar a casa, fazer faxina, compras de mercado, tempo para DR, congestionamento para a praia, fila para o cinema. Mas talvez se todos as 80% de pessoas que dizem que não estão felizes no trabalho ficassem felizes as filas para as coisas boas aconteceriam todos os dias. Ou talvez tivesse mais opções saborosas, feita a medida, no meu tempo, para o meu bolso e para todos os outros gostos também.

Muitas pessoas não acham que isto é possível: ter satisfação de segunda a sexta. Isto é vida de bon vivant, coisa que você inveja e não sabe como deve ser. Me lembra aquela série de tirinhas de como as pessoas acham que é, meus pais, meus amigos, eu e como é de verdade.

Para parar de me deliciar em clichês, deixa eu ir para mais um: tudo tem um lado bom e ruim, do tipo o almoço gratis sempre te custa alguma coisa, só que as vezes o preço vale a pena.

Convido para que acredite comigo, com meus parceiros e com os jovens que irão desenvolver seus próprios projetos sociais. Que curtam 6 semanas de desafio pessoal, desafio profissional, choque de cultura, risada, perguntas e reflexão. Faça parte da campanha Believe with us, no kickstarter: https://www.kickstarter.com/projects/444650780/believe-with-us . E de contorno também para os seus sonhos. Acredite também em si.

Eu não sou Poliana, nem ao menos as pessoas me acham a mais engraçada trabalhando. Sou mais séria no trabalho do que na fila do mercado. Mas acho que todo mundo repete que quer ser feliz na vida e repreende quem fala de meios e tentativas para ser. Repreende até mesmo quem está se divertindo com coisas pequenas. Claro que tem muita baboseira motivacional que não se importa com você, assim como tem muito jeans que não serve para corpo algum. O que eu acho que não deve ser sufocado não é isso. Somos melhores sem diminuir ninguém, somos melhores quando respeitamos as escolhas e forças dos outros. A verdade é que é muito fácil duvidar da nossa capacidade (nossa própria e da dos outros). Só que é moroso passar o dia-a-dia assim. Você quer ser alguém que participou das conquistas de alguém ou antecipou as derrotas?

Existem escolhas para gostar de todos os dias da semana.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Que cor tem o amor?

É da cor verde que eu gosto! Dizia ela.
Eu, que metida perco de calar, digo que o mundo é tão colorido pra de uma cor só gostar. 
Ela então se justifica: Já tentei o azul, bem como o amarelo. Por um tempo até pareceu servir, caiu bem, mas logo vinha a saudade da cor verde. Era o verde que ficava perfeito!
Diz ter tentado o vermelho, porque o vermelho até tinha aquela força que o verde possuía. Gostou! Ficou um tempo vestindo a lembrança que o vermelho trazia.
Ficou satisfeita quando se experimentava em cada sentimento que da cor nascia... 
Era prazeroso. 
A cor rosa trouxe uma espécie de melancolia, gosto de ressaca, de café doce.
O azul trouxera esperança, em uma época que já não a vestia mais. Trazia a cor de sorriso e malicia. Trazia também um traçado de insegurança que ao misturar-se ao enfado da cor branca, resultava em uma espécie de cor jocosa, brejeira.
Quando encontrou a cor preta, algo a sobressaltou. Disse que esta cor causava nela um conjunto de sentimentos; era sombrio e forte, mas uma força que não assustava, uma força bonita, esguia, elegante. Ficou espantada porque geralmente é na cor preta que se esconde o desconhecido, mas aquela que se apresentava para ela, embora escura como o céu na noite, ainda mostrava o lampejo da luz da lua.
A cor violeta, em contrapartida, era tão leve! Tão especial, transparente. Tinha cor de coisa boa. Abraço de irmão, carinho de amigo. Tinha cor de verdade.
No entanto ainda era da verde que ela lembrava. Do contorno que o verde fazia, do friso que a cor exprimia. Era a cor verde!
Não era tristeza de não ter a cor verde para sentir. Não! Era saudade de uma cor que vestisse tão bem nela. Era o verde, ainda o verde...

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Pescador de Ilusões


O Pescador de Ilusões

Era uma vez, um pescador que passava horas e horas do seu dia pescando às margens de um lago. Até aí nada de anormal, afinal, este é o dia a dia de muitos pescadores. Porém, este pescador parecia ser diferente. Havia nele algo que era, no mínimo, curioso. Todos em seu vilarejo o chamavam de “O Pescador de Ilusões”. Assim o chamavam pelo fato de nunca terem visto aquele pescador pegar um único peixe, mesmo ele indo pescar diariamente. Embora fosse inusitada, aquela cena passou a ser rotineira e, por tornar-se rotineira, praticamente já não chamava mais a atenção dos moradores daquele pequeno povoado. Contudo, sempre há alguém disposto a prestar a atenção naquilo que costuma passar despercebido e, neste caso, tratou-se de uma criança. Aliás, sempre elas, as crianças.

Curiosa por saber o que aquele homem tanto “tentava” pescar, a tal criança não se conteve e foi ter com o pescador a resposta. Então, chegando diante dele, ela foi logo perguntando:

__ O que o senhor tenta pescar neste lago todos os dias?

O tal pescador, por sua vez, que admirava aquele estilo curioso e ao mesmo tempo inocente de uma criança, mirou-a no fundo dos seus olhos e respondeu:

__ Peixes, minha filha! Todos os dias eu pesco por aqui lindos peixes. Um mais lindo do que o outro.

__ Quais, se eu não os vejo?

__ São de uma espécie quase em extinção, chamada Sonhos!

Sem entender bem ao certo o que acabara de escutar, a criança indagou:

__ Sonhos?

E o pescador mais uma vez respondeu:

__ Sim! Sonhos! Teria espécie melhor de peixes para eu pescar?

A menina, confusa, sem saber como responder, perguntou-lhe novamente:

__ Sonhos? Mas sonhos não são peixes, são?

O pescador, encantado por aquela ingenuidade que só se vê nas palavras de uma criança, sorridente respondeu-lhe:

__ Sonhos podem ser o que você quiser minha filha, inclusive peixes!


Vida de sonhador

Difícil é ser sonhador
Viver onde nem se nasceu ainda
Estar preso em um tempo que ainda virá
É querer dar o próximo passo
E descobrir que o degrau ainda não está lá.

Impossível é não querer sonhar
Viver onde poucos ousam estar
Estar livre para viver um sonho
É poder se sentir acordado
Enquanto dormem aqueles que não conseguem sonhar.

Rafael marIano

(Ilustração retirada de ptkrin.arteblog.com.br)